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  • Juliana de Oliveira Melo

Entrevista dada a estudante de Psicopedagogia da Uninter - São João da Aliança


Olá,

Chamo-me Juliana de Oliveira Melo, tenho 28 anos, casada, neuropsicoeducadora, psicopedagoga, professora. Atuo numa escola privada da minha cidade e no meu consultório próprio. Neuropsicoeducadora é uma nomenclatura voltada para profissionais da área educacional que concluíram o curso de pós-graduação em Neuropsicologia da Educação Especial. Este curso nos dá uma visão ampla do funcionamento do cérebro nos mais diversos transtornos, desde a infância até a 3ª idade. Já a psicopedagogia vem para desconstruir alguns conceitos tradicionais das escolas brasileiras e também expandir o conhecimento para auxiliar crianças nas suas mais diversas aprendizagens. Espero a partir dessa entrevista poder contribuir com a formação de mais colegas. Agradeço a confiança estabelecida.

Vamos as perguntas.

1 - Como você conceitua, na abordagem psicopedagógica, dificuldades de aprendizagem?

Segundo Oliveira e Bossa (1998), o desenvolvimento da inteligência constrói-se a partir da expansão ativa do campo da consciência em relação à realidade vivida. Percebendo esse conceito e associando a abordagem psicopedagógica que visa conhecer o sujeito, analisando suas limitações para intervir em seus aspectos cognitivos, sociais e afetivos.

2 - Das crianças que procuram a clínica, quais as dificuldades de aprendizagem mais frequentes?

A dificuldade de aprendizagem pode estar relacionada à inúmeros fatores, tais como: a metodologia utilizada, os métodos pedagógicos, o ambiente físico e até mesmo motivos relacionadas com o próprio aluno e seu contexto de vida. O termo se refere a um aluno que possui uma maneira diferente de aprender, devido a um barreira que pode ser cultural, cognitiva ou emocional. Por se tratar de questões psicopedagógicas, as dificuldades de aprendizagem podem, em sua maioria, serem resolvidas no ambiente escolar. Durante a avaliação e o acompanhamento psicopedagógico percebemos alguns caminhos que podem acelerar o processo de superação de tais dificuldades.

3 - Como as dificuldades de aprendizagem são detectadas e tratadas pelo psicopedagogo?

Através da Avaliação Psicopedagógica, nós investigamos as causas das dificuldades e intervimos em parceria com a escola e a família.

4 - A maioria das crianças que inicia o tratamento, termina? E se não terminam, quais fatores que determinam a interrupção das consultas?

Na clínica e fora dela é importante frisar que cada criança é parâmetro de si mesma. Sendo assim, não podemos avaliar se a maioria conclui ou não pois, esta avaliação de um todo depende do indivíduo e da sua família. De modo geral, a maioria das famílias é bastante comprometida com o desenvolvimento integral das crianças no acompanhamento. O que conseguimos perceber no dia-a-dia são famílias que não iniciam o acompanhamento por acharem que a escola irá resolver ou que a criança irá conseguir sozinha. Esta postura de alguns familiares é muito prejudicial pois a baixa autoestima passa a fazer parte dessas crianças quando percebem que não estão avançando como os seus outros colegas. Assim, é primordial que passem a realizar não apenas o acompanhamento psicopedagógico, mas também psicológico.

Há outros em que, por a família ser comprometida, não faltar as sessões, realizam tudo o que é solicitado, a profissional mantém contato direto com a escola entre outros detalhes, percebe-se os avanços e a superação daquelas dificuldades, e a criança recebe “alta” do acompanhamento. Outras, interrompem no início ou na metade por questões financeiras já que, na minha região o psicopedagogo não atende por plano de saúde, apenas particular.

5 - Quais as maiores dificuldades encontradas pelo psicopedagogo clínico?

Atualmente vejo como dificuldade na minha atuação, a compreensão das pessoas sobre o trabalho realizado pois, ao perceberem que neste atendimento a criança irá aprender por meio da ludicicidade e também através de produções (sejam elas, textos, desenhos, garatujas), as vezes acreditam que o brincar daquele mesmo brinquedo que a criança tem em casa possa não ser uma terapia ou ainda confundem-se com um reforço escolar ou banca.

Diante disso, costumo explicar o que é a psicopedagogia e como funciona o trabalho já na primeira sessão, onde converso com a família e faço perguntas sobre a criança. Dessa maneira, as famílias passam a compreender melhor o trabalho.

6 - Como você conceitua, na abordagem psicopedagógica, transtorno de aprendizagem e distúrbio de aprendizagem?

Conceituo como funcionamento cognitivo caracterizado por atitude e comportamento que aponta para um quadro de TA (Transtorno de Aprendizagem) que pode ser caracterizado como uma Disfunção Neurológica, no Brasil, Lefèvre:1975) que introduziu o termo distúrbio de aprendizagem como sendo: “síndrome que se refere à criança de inteligência próxima à média, média ou superior à média, com problemas de aprendizagem e/ou certos distúrbios do comportamento de grau leve a severo, associados a discretos desvios de funcionamento do Sistema Nervoso Central (SNC), que podem ser caracterizados por várias combinações de déficit na percepção, conceituação, linguagem, memória, atenção e na função motora”.

Podemos entender que são indivíduos que apresentam dificuldades de aquisição de matéria teórica, embora apresentem inteligência normal, e não demonstrem desfavorecimento físico, emocional ou social. Segundo essa definição, as crianças e adolescentes portadores de distúrbio de aprendizagem não são incapazes de aprender, pois os distúrbios não são uma deficiência irreversível, mas uma forma de imaturidade que requer atenção e métodos de ensino apropriados. Os distúrbios de aprendizagem não devem ser confundidos com deficiência mental.

Podemos entender então que esses sujeitos são pessoas inteligentes com bom potencial cognitivo, mas que na hora de desempenhar suas funções acadêmicas (leitura, escrita e cálculo) falham, isso porque as áreas cerebrais que deveriam funcionar para nestas habilidades apresentam problemas de conectividade. O que isto significa? Significa que as sinapses (transmissão de estímulos feitas por neurônios no cérebro) das áreas recrutadas para estas funções não conseguem realizar de maneira otimizada e de forma adequada. Assim quando uma pessoa com Transtorno de aprendizagem de leitura tenta ler, ela terá muito mais dificuldade pois seu esforço vai muito além, tendo que então recrutar outras áreas do cérebro (que não tem especificidade para leitura) para auxiliar a realizar esta tarefa, cansando-se assim muito mais.

É importante salientar que este Diagnóstico é Clínico, isto é, exames como Ressonância Magnética, eletroencefalograma, tomografia podem vir com resultado normal, mas mesmo assim a pessoa pode ter um Transtorno de Aprendizagem. Torna-se fundamental também um bom relato dos professores e da família.

Os tipos mais comuns de Trantornos de Aprendizagem são: Dislexia, Dislalia, Disgrafia e Discalculia.

7 - Quando o psicopedagogo clínico se depara com o distúrbio de aprendizagem, requer acompanhamento psicopedagógico ou é preciso de outros profissionais?

É importante confirmar a hipótese diagnóstica com um neurologista e um fonoaudiólogo. Além disso, contínuo acompanhamento de uma equipe multidisciplinar (psicólogo, psicopedagogo e fonoaudiólogo).

8 - Como se comportar diante de familiares que mostram uma grande resistência ao atendimento psicopedagógico clínico?

Depende do ambiente em que o psicopedagogo está inserido. A maioria das famílias que recorrem à clínica já foram convencidos pela escola ou neurologista da importância do acompanhamento. Se o psicopedagogo está em um ambiente escolar a postura é de cautela e resistência, onde, sempre que possível, retome a indicação a esta família. Já na clínica não há tantas famílias que precisam deste convencimento, mas é necessário sempre dar um feedback sobre o trabalho para a família se comprometer e também tentar perceber as mudanças em outros ambientes. E ainda, quando o psicopedagogo está num ambiente hospitalar, o ideal é sempre dialogar com as famílias e permitir que elas presenciem as sessões, sejam elas individuais ou em grupos, pois, quando a criança está muito tempo internada, não pode deixar as vivências da aprendizagem de lado, assim, em parceria com a escola da criança, o psicopedagogo irá atuar neste ambiente.


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