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  • Foto do escritorJuliana Melo

Os sentimentos na infância


Compreender cada etapa do desenvolvimento da criança e não tentar acelerar é muito importante para a criança e prazeroso para quem acompanha de perto essa evolução natural.

Durante o processo de aprendizagem a criança traz sensações particulares frente aos desafios. Muitas delas permeadas de pré-julgamento, medo, raiva, alegria, tristeza e amor. Esses sentimentos juntos formam o equilíbrio emocional do indivíduo. Quando um ou mais desses sentimentos estão desordenados, o sofrimento é aparente e pode ser percebido a partir de ações que antes eram pouco realizadas pela criança como irritação, descontrole, impaciência, movimentos repetitivos voluntários e involuntários, ansiedade, vergonha e outros sentimentos ruins.

Percebendo esses sintomas, é possível ensinar às crianças habilidades de enfrentamento para evitarem esses sentimentos. Nesse momento, o trabalho da família é primordial para a autoconfiança da criança. Por isso, quando perceber qualquer tipo de desconforto como estes mencionados anteriormente, o ideal é parar de tranquilizar o seu filho. Você sabe que não há motivos para a criança preocupar-se, então você diz, “Confia em mim. Não há nada para te preocupar.” Todos nós desejamos que fosse tão simples assim. Porque é que a sua tentativa de tranquilidade não dá certo? Na verdade, não é porque a criança não está ouvindo ou confiando. A criança ansiosa quer desesperadamente ouvi-lo, mas o cérebro não deixa isso acontecer. Durante os períodos de ansiedade, há uma rápida descarga de produtos químicos e processos mentais que são ativados com um objetivo prioritário para o corpo – a sobrevivência. O que contribui para este fenómeno é que o córtex pré-frontal (a parte mais lógica do cérebro) é colocada em espera, enquanto o cérebro emocional mais automatizado assume as funções de resposta perante a situação estressante. Por outras palavras, é realmente difícil para o seu filho pensar com clareza, usar a lógica ou mesmo lembrar-se de como executar as tarefas básicas nesse momento.

O ideal é tentar racionalizar e querer que a preocupação do seu filho desapareça. Por isso, quando perceberem esses momentos de ansiedade, pare um pouco por breves momentos e faça algumas respirações profundas com a criança. A respiração profunda pode ajudar a inverter a resposta do sistema nervoso. Demonstre para a criança que você percebe e quer saber sobre os sentimentos dela. Avalie esses sentimentos. Assim que a criança ficar mais calma, é hora de descobrir possíveis soluções. Deixe de lado a sua culpa, vocês são um pai e uma mãe incríveis para a criança.

Destaque o lado positivo da preocupação. A ansiedade já é suficientemente perturbadora para a criança, por isso, não podemos passar a mensagem que estar preocupada significa que algo de errado existe com ela. Muitas crianças ainda desenvolvem mais ansiedade por estarem ansiosas ou preocupadas. Ensine à criança que a preocupação, de fato, tem um propósito. Quando os nossos ancestrais iam caçar e colher alimentos havia perigo no ambiente, e estar preocupado ajudou a evitar ataques dos animais ferozes, como por exemplo o tigres com dentes de sabre. Nos tempos modernos, nós não temos uma necessidade de fugir dos predadores, mas continuamos com esse mecanismo de resposta ansiosa que nos protege – a preocupação. A preocupação é um mecanismo de proteção. A preocupação soa um alarme em nosso sistema e ajuda-nos a sobreviver perante a percepção de perigo. Ensine à criança que a preocupação é perfeitamente normal, e que pode ajudar a protege-la, e que todas as pessoas de vez em quando experimentam isso. Às vezes o nosso sistema corporal dispara alarmes falsos, mas este tipo de preocupação (ansiedade) pode ser colocado à prova com algumas técnicas simples.

Enquadre a ansiedade da criança com os acontecimentos da vida. Como você provavelmente sabe, ignorar a ansiedade não ajuda, mas enquadrar a ansiedade com os acontecimentos de vida e falar com a criança sobre a relação que existe entre o incômodo sentido e a sua percepção dos acontecimentos, é um fator preponderante para reestabelecer o equilíbrio emocional. Criar um personagem para explicar esta relação pode tornar mais fácil o entendimento da criança. Por exemplo, você pode criar um personagem que personifica a ansiedade. Vamos chama-lo de Óscar. O Óscar vive no velho cérebro que é responsável por proteger-nos quando estamos em perigo. Claro que às vezes o Óscar fica um pouco fora de controle e quando isso acontece, temos de falar calmamente para ele. Você pode usar esta mesma ideia com um boneco de pelúcia ou mesmo teatralizar o personagem em casa. Personificando a preocupação ou criar um personagem traz vários benefícios. Isso pode ajudar a desmistificar as sensações incômodas sentidas no corpo da criança quando ela fica ansiosa ou preocupada em excesso. Este procedimento pode ajudar-la a reativar a parte do processamento lógico da informação e funcionar como uma ferramenta que pode usar por conta própria a qualquer momento. Além disso, vocês também podem assistir juntos ao filme “Divertidamente”, que trata de questões emocionais das crianças e adolescentes. Sua filha vai amar muito e vocês vão entender melhor o processo ao qual ela está passando.

Ensine a criança a ser um detetive de pensamentos. A preocupação é a maneira que o cérebro desenvolveu para nos proteger do perigo. Para se certificar de que estamos realmente prestando atenção, a mente muitas vezes exagera o objeto da preocupação (por exemplo, confundindo um pedaço de pau com uma cobra). Você pode ter aprendido que ensinar as crianças a pensar mais positivamente poderia acalmar suas preocupações. Isto é verdade, mas isoladamente não chega. O melhor remédio para o pensamento distorcido não é o pensamento positivo, mas sim o pensamento preciso.

Permita que a criança se preocupe. Dizer à criança para não se preocupar não vai impedi-la de fazê-lo. Se as crianças conseguissem simplesmente deixar de se sentirem mal, elas fariam. O que melhor funciona é passar a mensagem que não existe nenhum mal que a preocupe. Você pode criar uma atividade divertida. Por exemplo, decorar uma caixa da preocupação. Durante o tempo de preocupação, entre 5 e 10 minutos, não há regras sobre o que constitui uma preocupação válida, vale tudo. Quando o tempo chegar ao fim, a caixa deve ser fechada e dizer adeus as preocupações para esse dia.

Ajude a criança a mudar o discurso de “e se...” para “o que posso fazer para...”. Nós seres humanos somos capazes de viajar no tempo. Não fisicamente, mas mentalmente. De fato, mentalmente gastamos muito tempo com a cabeça no futuro. Para uma criança este tipo de viagem mental no tempo pode exacerbar a preocupação, levando-a a fazer perguntas do tipo: “e se eu não conseguir abrir a minha mochila e levar bronca da professora?” ou “ e se a Maria não falar comigo hoje?” ou “e se eu não fizer a tarefinha do jeito certo?”. Quando esses questionamentos aparecem na criança ela nos demonstra recusando a fazer a tarefa ou algo que goste. Por isso, quando a criança começar com esses sintomas o ideal é praticar exercícios de conscientização através da respiração. Peça para que ela respire fundo até o tempo que achar necessário para voltar a se concentrar e realizar a tarefa com segurança.

Não evite tudo que causa ansiedade à criança. Em longo prazo, evitar a ansiedade só irá aumentá-la. Então a alternativa é tentar uma exposição progressiva e gradual às situações temidas. Lembre-se: você é o suporte da criança. Todas essas sensações são muito dolorosas, frustrantes e confusas para a criança. Mantenha em mente que o pai e a mãe são as pessoas que mais podem ajudar a superar esses conflitos. Se a família realizar intervenções em casa e não perceber, dentro de 6 meses uma mudança, procure ajuda de um psicólogo infantil.

Atenciosamente.


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